Na União Europeia, a ascensão da ultradireita tem preocupado outras correntes políticas. Giorgia Meloni, da Itália, está buscando formar uma grande coalizão no Parlamento Europeu. Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, não descarta a possibilidade de cooperação com Meloni. Nos últimos meses, Roberta Metsola, presidente do Parlamento Europeu, percorreu os 27 Estados-membros da União Europeia com o slogan “Usa o teu voto”. Em inúmeros debates em auditórios municipais, universidades e escolas, ela tentou engajar os eleitores, especialmente os jovens, para a eleição europeia que ocorre a cada cinco anos.

“A imagem que vocês veem na mente são essas mais de 700 poltronas azuis. Elas vão ser distribuídas, quer vocês votem, quer não. Mas agora vocês têm a escolha, podem fazer uma diferença, podem influenciar quem vai ocupar ou não um assento”, explicou a política democrata cristã maltesa a um grupo de jovens na Dinamarca.

Depois das eleições na Índia, as da UE são o segundo maior escrutínio democrático do mundo, envolvendo 350 milhões de eleitores – um empreendimento nada simples. Na última, em 2019, a participação ficou em cerca de 50%. Desta vez, uma pesquisa recente indicou interesse popular em torno de 60%, sugerindo uma maior participação.

A participação será especialmente importante, nesta que muitos políticos declaram ser a “eleição do destino” ou “do direcionamento”. Do ponto de vista estatístico, o centrismo tende a se beneficiar de uma alta presença nas urnas.

Em diversos países-membros, inclusive a Alemanha, a campanha foi marcada pela discussão sobre segurança e defesa, devido à guerra da Rússia contra a Ucrânia. Entretanto, as pesquisas mostram que a política econômica é o tema dominante para a decisão eleitoral nos 27 Estados, na maioria dos quais a política de migração não desempenha um papel decisivo.

Em muitos países-membros, os candidatos focaram no previsto crescimento da ala direitista – desde eurocéticos conservadores até radicais. Num vídeo para conclamar à eleição, o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, fez advertências sombrias.

“Alguns populistas exigem que a Alemanha saia da União Europeia. Outros veem a Rússia de [Vladimir] Putin ou a China de Xi Jinping como um modelo para a Europa. E ainda outros querem o retrocesso da UE. Que desvario destruidor! A Europa e sua unificação garantem nossa prosperidade e nosso futuro.”

Grande coalizão de ultradireita avança com Meloni

Na França, Itália, Holanda, Bélgica, Áustria e Hungria, os partidos de extrema-direita são os primeiros na preferência do eleitorado. Na Alemanha, Polônia e Suécia, podem alcançar pelo menos um segundo ou terceiro lugar. Com cerca de 15% das intenções de voto, a Alternativa para a Alemanha (AfD) está em pé de igualdade com os partidos Social-Democrata (SPD) e Verde. A União Democrata Cristã (CDU) domina no país com 30%.

As projeções sugerem que o número de ultradireitistas no Parlamento Europeu crescerá significativamente, até 21% a 25%, mas sem alcançar uma maioria decisiva. Por isso, a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, chefe do grupo de direita Conservadores Reformistas e Europeus (ECR), quer criar uma coalizão no Parlamento, seguindo o modelo italiano.

Há 18 meses, Meloni governa com uma aliança de populistas e extremistas de direita e democratas cristãos. Ela quer romper a atual coalizão centrista do Parlamento Europeu, formada por social-democratas, liberais e democratas cristãos.

Por outro lado, há dois grupos ultradireitistas no Parlamento. Junto com a Reunião Nacional (RN) de Marine Le Pen, o Fidesz de Viktor Orbán, o Lei e Justiça (PiS) polonês e outros, Meloni quer fundar uma grande bancada nacionalista de direita.

“Estamos às vésperas de uma eleição decisiva, pois pela primeira vez ela poderá dar fim às maiorias antinaturais e contraproducentes. Podemos permanecer concentradas e com os dois pés no chão. Voltemos o olhar para o horizonte”, exortou Meloni em um comício eleitoral na Espanha.

Democratas cristãos flertam com populistas de direita

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, não descarta uma futura cooperação com Meloni. Como afirmou em diversos debates televisivos, o que importa não é tanto o manifesto partidário, mas se os eurodeputados estão do lado da Ucrânia e se atentam para os valores europeus.

“E ela é sem sombra de dúvida pró-europeia, é contra Putin, isso ela deixou bem claro. E é pelo Estado de direito. Se permanecer assim, vamos lhe oferecer a cooperação”, disse von der Leyen, referindo-se à premiê italiana. Social-democratas, liberais, verdes e esquerdistas criticaram duramente esse novo curso da democrata cristã Ursula von der Leyen.

Em sua décima legislatura, o Parlamento Europeu contará com 720 assentos, 15 a mais do que até então. Segundo as enquetes mais recentes, democratas cristãos e social-democratas manterão o atual peso de suas bancadas, enquanto liberais, verdes e esquerdistas devem perder representação.

Independente de que coalizões se estabelecerão após a formação das bancadas, deve-se considerar que o Parlamento sediado em Estrasburgo é apenas uma de duas câmaras legislativas equipotentes. Portanto, não pode decidir sozinho, tendo que agir em conjunto com o Conselho da União Europeia, onde estão representados os governos dos 27 países.

Os governos nacionais dependem da aprovação do único parlamento supranacional e eleito por voto direto do mundo. Em nenhuma outra região existe uma instituição análoga, capaz de aprovar leis para além de fronteiras nacionais.

Tradicionalmente, o pleito legislativo europeu se realiza em quatro dias. Em 2024, ele se inicia em 6 de junho na Holanda, mas a maioria dos países vota no domingo, 9 de junho. A partir de 23h (18h em Brasília) saem as primeiras avaliações garantidas sobre a distribuição dos assentos na eleição para compor o 10º Parlamento Europeu.

Fonte: DeutscheWelle – Por Bernd Riegert

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